Patologização e Medicalização: O que são e como afetam a nossa vida?
- Deise Klauck

- 16 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de out.
A patologização e a medicalização têm se tornado conceitos cada vez mais comuns na medicina e na sociedade, mas o que realmente significam e qual o impacto que elas têm em nosso corpo e em nossa vida emocional?

Vivemos em uma época em que as respostas rápidas e as soluções fáceis são muito procuradas. Mas, quando falamos de saúde, será que tudo precisa ser diagnosticado, rotulado e tratado como uma patologia?
Patologização: Transformando Comportamentos e Emoções em Doenças
A patologização ocorre quando comportamentos, sentimentos ou situações que antes eram compreendidos dentro de um espectro de experiências humanas normais são, de repente, classificados como doenças ou transtornos. Por exemplo, tristeza profunda após uma perda, que é uma reação natural, pode ser diagnosticada como depressão em vez de ser vista como parte de um processo de luto. Podemos ainda citar o momento do nascimento, antigamente realizado por mulheres da comunidade, parteiras, de forma natural e sem intervenções, prática hoje condenada por muitos e levada para dentro de salas frias, estéreis e sem calor humano - os centros cirúrgicos.
Gostamos sempre de lembrar também, em nossas conversas, a importância e o papel fundamental da febre para a humanidade. A febre, um sinal de reação imunológica do corpo, é medicalizada de forma brutal, diariamente, muitas vezes por orientação médica.
O que muitas vezes acontece é que a linha entre o que é considerado "normal" e o que é considerado "patológico" começa a se diluir. A tristeza, a ansiedade e até a timidez, que são características humanas naturais, podem ser exageradas como sintomas que precisam ser combatidos com medicamentos ou terapias. Mas, será que tudo precisa ser patologizado?
Ao transformar emoções humanas comuns em doenças, acabamos desconsiderando a capacidade do corpo e da mente de lidar com os altos e baixos da vida. Por exemplo, a ansiedade antes de uma apresentação ou o medo de mudanças podem ser sinais naturais de preparação, mas quando rotulados como transtornos, muitas vezes geram uma busca por tratamentos agressivos, quando a solução poderia estar no simples reconhecimento e acolhimento dessas emoções.
Medicalização: Quando a Solução Está Sempre na Medicina
A medicalização é o processo pelo qual condições ou aspectos da vida cotidiana que antes eram enfrentados sem intervenção médica passam a ser vistos e tratados como problemas que necessitam de cuidados médicos. Um exemplo disso pode ser a crescente prescrição de medicamentos para o tratamento de problemas que são, muitas vezes, apenas reflexos do estilo de vida acelerado e das pressões sociais, ou de problemas financeiros, políticos, biopsicossociais.
A medicalização da vida cotidiana é quando um comportamento ou condição não necessariamente patológica, como a dificuldade de concentração, é tratada com medicação, como os estimulantes para o TDAH, sem considerar mudanças no estilo de vida, como a redução do estresse, a melhoria na alimentação ou o aumento de pausas para o autocuidado.
A medicalização acontece em uma sociedade que, muitas vezes, busca soluções rápidas e tangíveis para problemas que são muito mais complexos e relacionados ao contexto social, emocional e até espiritual. Falar de depressão, ansiedade ou distúrbios de sono sem abordar fatores como relações sociais, qualidade de vida, alimentação e ritmo de vida é reduzir um quadro de saúde a uma questão exclusivamente médica, ignorando o papel crucial do ambiente no processo de cura.
O Impacto da Patologização e Medicalização em Nossas Vidas
Tanto a patologização quanto a medicalização têm impactos profundos na forma como enxergamos nossa saúde. Quando patologizamos emoções naturais, como a tristeza ou a ansiedade, criamos uma sensação de que estamos quebrados ou errados, quando, na verdade, estamos apenas respondendo ao que a vida nos oferece. Isso gera um ciclo de medo e vergonha, em que qualquer desconforto emocional é visto como algo que precisa ser corrigido ou apagado.
A medicalização, por sua vez, faz com que muitas vezes busquemos respostas em tratamentos rápidos e medicamentosos, em vez de olhar para o quadro completo — que envolve nossas relações, nosso trabalho, nossa espiritualidade e o cuidado com o corpo. A resposta fácil é a pílula, mas a verdadeira cura, muitas vezes, exige um trabalho mais lento e cuidadoso, que respeite o ritmo do corpo e da mente.
Cuidar Sem Patologizar: A Medicina Integrativa e o Olhar Holístico
A abordagem integrativa, que temos o prazer de oferecer no Manacá, vai exatamente na contramão dessa visão limitada da saúde. Em vez de patologizar emoções ou medicalizar experiências humanas, buscamos escutar com atenção o que o corpo e a mente estão dizendo, buscando tratar a raiz dos sintomas e promovendo o equilíbrio através de práticas naturais e personalizadas, como a acupuntura, a fitoterapia, e o uso responsável de tratamentos como a cannabis medicinal, sempre com o olhar sensível de quem respeita o tempo do paciente.
Respeitar o tempo do corpo, entender que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas o equilíbrio entre as emoções, a mente e o ambiente, é o que acreditamos ser o verdadeiro cuidado. A medicina do interior não corre atrás de etiquetas ou diagnósticos rápidos, mas trabalha com o que é mais íntimo e pessoal: o bem-estar genuíno, que vem da escuta, da compreensão e do cuidado com cada parte do ser.
Se você sente que seu corpo e sua mente pedem algo além da solução rápida e da prescrição médica, estamos aqui para ouvir e caminhar com você em direção a um tratamento mais profundo e humanizado. Afinal, cuidar de si é, antes de tudo, permitir-se a pausa e a reflexão sobre o que realmente precisa ser curado.
Com carinho, equipe Manacá.
Dra. Deise Klauck, Médica
Lisiê Silva, Farmacêutica clínica




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