O que aprendi ouvindo meus pacientes (em silêncio)
- Lisiê Silva

- 4 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de set.
Escutar é permitir que o outro exista, sem pressa de consertar.

Aos poucos, percebi que meus pacientes não chegam apenas com dores físicas — mas com histórias inteiras guardadas no corpo.
Tem dor que começou numa emoção forte, tem tensão que veio depois de anos suportando. Tem insônia que chegou no mesmo tempo em que o trabalho começou a engolir os dias. Tem cansaço que não melhora com descanso, porque não é só do corpo — é da alma também.
No começo, confesso que eu ainda escutava com mais ouvidos do que com presença. Anotava, perguntava, explicava. Fazia sentido, mas faltava algo. Foi no silêncio e escutando, que comecei a perceber: não é só o que se diz — é o espaço que se oferece para que o outro possa sentir.
E foi assim, escutando com o tempo, como quem costura uma colcha de retalhos. Este processo de escuta silenciosa também me ensinou algo fundamental: não é só sobre tratar, prescrever e ver melhorar, mas sobre ensinar o corpo a se ouvir novamente - é também sobre conexão com o próprio corpo. Ajudar a pessoa a viver com mais autonomia sabe?
O que aprendi com meus pacientes é que, muitas vezes, a verdadeira melhora começa quando damos ao corpo o tempo e o espaço necessários para que ele se reconecte com sua própria sabedoria.
Também me dei conta de algo ainda mais profundo: há o mistério dos encontros. Quando duas pessoas se encontram com honestidade algo invisível acontece. Não é apenas uma consulta — é uma ajuda mútua. Entender isso é uma dádiva. Porque, no fim das contas, somos seres humanos, não produtos a serem consertados.
Quando nos enxergamos assim — inteiros, complexos, cheios de camadas, de retalhos — algo torna possível. Ao escolher esse ritmo mais lento e sensível, onde o cuidado é sem pressa e a escuta é profunda, percebo que o verdadeiro segredo não está nas palavras ou nos diagnósticos imediatos. Ele está na escuta e na atenção de perceber os sinais sutis que o corpo dá — e de respeitar seu tempo para cicatrizar.
Dra. Deise Klauck, Médica
Lisiê Silva, Farmacêutica clínica



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