O corpo fala: A carta que seu corpo quer que você leia

Oi, tudo bem? Sou eu, seu corpo. Ou melhor, aquela máquina incrível que você carrega por aí desde sempre.

Sabe, lá no começo, eu era perfeito. Levei milhares de anos pra me aperfeiçoar. Verdade. Não era só um monte de ossos, músculos e órgãos, era um organismo pensado para se mover, respirar e sentir o mundo com calma e atenção. Passei por eras inteiras, desde os tempos das cavernas até a invenção do fogo — e sempre cuidei de você.

Eu entendia o ritmo do sol e da lua, os ciclos do dia e da noite. O relógio antigo que você carrega dentro do peito, o tal do ritmo circadiano, era um maestro afinado. Ele regulava a liberação de hormônios como o cortisol pela manhã, que te ajuda a despertar e encarar o dia com energia, e a melatonina à noite, que acalma e prepara você para o sono restaurador.

Falando em sono, esse é um dos meus momentos favoritos para cuidar da gente. Durante a noite, seu cérebro emite ondas elétricas que vão mudando conforme você entra em diferentes fases do sono — do sono leve ao profundo, até chegar ao sono REM, quando os sonhos aparecem. É nesse ciclo que eu consigo me regenerar de verdade, consertar o que está gasto, equilibrar emoções, organizar memórias e renovar as forças para o próximo dia. Sem esse descanso profundo, nada funciona direito — nem seu corpo, nem sua mente.

Eu sabia quando era hora de estar alerta, e quando era hora de descansar, recarregar, estar em silêncio. Era um equilíbrio lindo, uma dança natural entre luz e sombra, ação e pausa.

Mas aí, de uns tempos para cá, algo mudou. Você começou a me esquecer.

Ligou luzes fortes à noite, ficou grudado na tela até tarde, tomou cafeína quando o corpo pedia descanso, ignorou o sono que me ajuda a liberar aquela melatonina sagrada. E tudo isso bagunçou meu ritmo, aquele mesmo que me acompanha há milhares de anos.

Meu cortisol, que deveria te dar força no despertar, agora às vezes sobe quando não devia, deixando você ansioso(a). A melatonina, essa amiga silenciosa da noite, fica confusa, e o sono foge. Eu tento avisar com sinais sutis — você já deve ter ouvido falar que "o corpo fala", e é assim - aquela dor de cabeça chata, o cansaço constante, o estresse que aperta o peito, travo a mandíbula, a cervical, o ciático e nada. Você não me escuta! Aperto o estômago, produzo acidez pra ver se chamo a tua atenção. E então, você toma antiácido, remédio pra náusea, pra dor e segue. E então eu vou ficando sem paciência, e te coloco de cama. Você reflete, pensa na morte, promete cuidar melhor da gente. Mas na primeira oportunidade, começa tudo de novo. Sabe, eu tenho umas cartas na manga, mas tem coisas que fogem do meu controle. Tem células e situações que não controlo e são verdadeiras anomalias: o Câncer por exemplo, o AVC, infarto, hérnia, traumas, demências...

Eu tento ser paciente, mas não sou só músculos e ossos: guardo memórias, emoções, um sistema nervoso que não gosta de pressa ou de noites mal dormidas. E quando você ignora, eu fico meio revoltado. Não grito, mas deixo claro que algo não vai bem. Então me escuta, por favor!

Queria lembrar que, apesar de toda essa evolução tecnológica, eu ainda sou o mesmo ser perfeito que sempre fui — só que preciso que você me ouça. Que respeite os ciclos que me fazem bem: o descanso da noite, a energia que nasce com o amanhecer, o equilíbrio entre ação e pausa. Preciso me mexer, o sedentarismo sempre me adoece.

Se der, que tal a gente começar a conversar de novo? Que tal abrir a janela para o sol da manhã e desligar as luzes da madrugada? Me alimente com carinho, com alimentos naturais, menos processado, com menos embalagens. Leia, exercite a mente com conteúdos que te provoque reflexões e consciência. Exercite o corpo, alongue, use com sabedoria.

Eu prometo que, se você me ouvir, vamos seguir juntos por muito tempo — com saúde, leveza e equilíbrio.

Com todo o cuidado do mundo,

Seu corpo (o seu melhor amigo de milhões de anos)

Saiba mais sobre nós

Dra. Deise Klauck, Médica

Lisiê Silva, Farmacêutica clínica